JAPA

JAPA

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A revolta dos palhaços




 
Enquanto sociólogos e analistas políticos tentam compreender a origem e a natureza das manifestações que tomaram conta do país nos últimos dias, aqui, na nossa província, começa a se ensaiar uma espécie de protesto que, no entanto, qualquer Schopenhauer de pizzaria pode decifrar: trata-se obviamente de meia dúzia de gatos pingados da oposição que - sem discurso e sem contracheque - tentam atingir o governo municipal pegando carona num movimento organizado legitimamente por estudantes.

Essa atitude desesperada se justifica depois de os canibais terem esgotado seu estoque de reclamações, muitas delas baseadas apenas em suposições ou, quando muito, em pequenos atos isolados que não representam o conjunto da administração. Como nenhuma dessas artimanhas funcionou a ponto de abalar profundamente a imagem do governo - que, aliás, continua firme, apesar das divergências internas -, os oposicionistas resolveram apelar para a imitação grotesca e caricata do tal Movimento Passe Livre, mesmo correndo o risco de parecerem ridículos.

E por que ridículos? Simplesmente porque uma das principais bandeiras dos manifestantes – a redução do preço das tarifas dos ônibus e metrôs – não se aplica à nossa realidade, já que o transporte mais popular aqui ainda é a bicicleta. O leitor poderia indagar: “Ah, mas tem outros motivos, como os problemas na educação, na saúde, segurança e a tão propalada corrupção”. É mesmo? Pode até ser. Nesse caso, porém, nossos ativistas de ocasião parecem ainda mais ridículos, simplesmente porque não têm a menor legitimidade para encabeçar qualquer protesto (falo aqui dos oposicionistas).

Explico melhor: para falarem de corrupção, os miquinhos amestrados do coronel (na net e no parlamento) teriam de admitir que os governos anteriores - dos quais eles faziam parte e até bem pouco tempo eram defensores ferrenhos – desviaram mais de R$ 14 milhões de reais só dos aposentados; para se queixarem de problemas na saúde, nossos heróis sem contracheque teriam de reconhecer - tal como fez a macumbeira contratada pelo índio botocudo de Aldeias Altas para dirigir a pasta – que havia roubo por lá e que os hospitais não tinham ambulância, nem remédios, nem médicos. 

E mais: para pedir mais atenção aos problemas educacionais, os canibais teriam de aceitar que durante doze anos os professores foram tratados com desdém, sem direito a abono ou qualquer outro benefício legal, sendo inclusive chamados de marginais pelos serviçais do índio botocudo de Aldeias Altas e da loura burra do Campo Velho. Teriam de admitir também que milhões de reais foram desviados de convênios da merenda escolar, que algumas escolas nunca foram totalmente construídas e que outras só tinham a fachada. 

Mas exigir que esses filósofos de facebook reconheçam isso – o que é bom esclarecer: representa apenas o mínimo dos desmandos praticados pelas gestões passadas – é o mesmo que acreditar na existência de Papai Noel. Mais fácil é sair por aí perambulando por redes sociais, na tentativa desesperada de conquistar adeptos para seu teatrinho de rua; é desfilar pela cidade com máscaras de gente séria, quando todos sabem que eles não passam de palhaços a serviço de velhas raposas da política local. 
Ivandro Coêlho, professor e jornalista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário