Quase ninguém assistiu ao “formidável enterro da última quimera” de
Eduardo Braga. Dos 15 parlamentares que compõem a Câmara, apenas 06
compareceram à sessão solene de abertura dos trabalhos de 2013,
realizada na tarde de ontem (15). Entre os faltosos, 04 são da oposição.
Resultado: apesar da falsa expectativa, a primeira reunião presidida
por Braga foi um fiasco.
O leitor quer saber o motivo de tanta ausência? Não, não foi a chuva
torrencial que caiu no dia. Segundo fontes do próprio parlamento, o que
levou os vereadores do governo e da oposição a não comparecerem à Casa
do Povo teria sido uma entrevista que Eduardo Braga concedeu ao
jornalista Robert Lobato, de São Luís. Na matéria, Braga atacava
fortemente a administração municipal, ao mesmo tempo que se apresentava
como “um novo quadro dentro do PT”, ignorando lideranças históricas do
partido - como Manim, Paiva e outros.
A atitude de Braga desagradou a gregos e troianos. A maioria dos
parlamentares teria considerado a entrevista desastrosa e precipitada.
Do lado governista, estranhou-se o estilo gillette do
parlamentar: nos bastidores, distribui afagos ao governo e acena com a
possibilidade de compor a base; em público e nas redes sociais, bate
pesado na prefeita. Ora, essa mania de cortar dos dois lados – oposição e
governo – causaria desconfiança até em seus colegas de tribuna. Para
eles, só na poesia soam bem coisas do tipo “a mão que afaga é a mesma
que apedreja”. Em política é diferente.
Do lado da oposição, a iniciativa de Braga também não foi bem aceita.
Pelo menos três parlamentares oposicionistas teriam achado que a
entrevista não passou de exibicionismo. Por isso não quiseram dar
audiência ao espetáculo oportunista do vereador. Segundo uma fonte da
prefeitura, o descontentamento teria sido demonstrado – via telefone -
até por lideranças estaduais como Monteiro, o vice-governador Washington
Luís e José Antônio Helluy. Todos eles têm boas relações com Belezinha e
apoiaram a aliança do PT com o grupo da prefeita durante as eleições.
Outro que também não teria gostado nada foi o presidente do PT e
secretário de assistência social, Paiva, que assistiu ao vereador falar
em nome do partido, antecipando questões políticas e eleitorais sem
autoridade para isso. Pela lógica, em casos como esse, só quem teria
legitimidade para falar em nome do PT é seu presidente. O mal estar
entre os membros do partido foi tanto que teria levado a executiva e o
diretório municipal a marcarem reunião para discutir o assunto.
Resumo da ópera (melhor dizer, comédia): o teatrinho montado por Eduardo
Braga para se autopromover não teve audiência. Diante da ausência
constrangedora de quase todos dos vereadores, ficou evidente o
desprestígio do parlamentar entre seus pares. Abandonado à própria
sorte, só lhe restou “a ingratidão - esta pantera”. Como diria Augusto
dos Anjos: “Acostuma-te à lama que te espera!”.
Ivandro Coêlho, professor e jornalista.
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