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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sobre o carnaval de Chapadinha

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sobre o carnaval de Chapadinha



Sei do esforço que a prefeita de Chapadinha, Dulcilene Belezinha, e o secretário de cultura, Herbet Lago, têm feito para garantir a realização do carnaval este ano em nossa cidade. Mesmo com o município impossibilitado de conveniar com a Secretaria Estadual de Cultura, já que o governo anterior não prestou contas de outros convênios cujos valores somam quase um milhão de reais (pouca gente perguntou onde foi parar esse dinheiro).

No entanto, mal foi divulgada a programação oficial do carnaval 2013 e as críticas começaram a surgir nas redes sociais e em alguns blogs. Com a publicação do decreto de emergência, essas críticas se acentuaram. Embora o documento não faça referência à área da cultura e sim às áreas de saúde, educação, infraestrutura e assistência social, o que se viu foi uma queixa uníssona em torno de um único ponto: não seria um paradoxo realizar carnaval e decretar ao mesmo tempo estado de emergência?

O questionamento é aparentemente revestido das melhores intenções, afinal tem como corolário a idéia de que “primeiro deve-se arrumar a casa para depois fazer festa”. Tudo certo, se não fosse pelo seguinte fato: até bem pouco tempo, era esse o discurso da antiga oposição. E o que diziam os que naquela época estavam no comando? Que o carnaval era importante, pois gerava emprego e renda; que aquecia o comércio; que impulsionava o turismo; que mobilizava a juventude, etc. etc. etc. 

Para mostrar que uma coisa nada tinha a ver com outra - ou seja, realizar carnaval e conter gastos -, citavam maquiavelicamente exemplos de outras cidades brasileiras, algumas sem nenhuma semelhança econômica, cultural ou social com Chapadinha. O objetivo era, claro, ridicularizar as vozes discordantes e atribuir esse tipo de pensamento à nostalgia de um tempo em que o carnaval era feito sem nenhuma estrutura. Esse tempo correspondia, segundo eles, ao período em que o grupo do ex-prefeito Isaías estava no poder. 

Ora, caro leitor, um debate minimamente honesto sobre a festa carnavalesca tem que considerar o seguinte: o problema não é o carnaval em si, mas o modelo atualmente em vigor e que é absolutamente impróprio, culturalmente alienante e financeiramente inviável num município como o nosso. Esse modelo – que foi implantado desde o primeiro mandato de Magno Bacelar e que se caracteriza pela contratação de grandes bandas de forró e trios elétricos -, traz dividendos políticos, é certo, mas também dá margem à corrupção e ao  desvio de dinheiro. O caso dos convênios ilustra bem isso. 

O próprio Ministério Público admite - tenho acompanhado artigos e entrevistas de promotores em todo o país - a dificuldade de fiscalizar eventos e transações financeiras dessa natureza, uma vez que os grandes artistas – mesmo tendo o mesmo estilo - em geral não têm cachê igual. Ou seja: não há um padrão de cachê para todos, nem para um único artista. Então, como fiscalizar algo que muda de acordo com a temporada, com o próprio artista, com a distância, com a estrutura de palco, som e iluminação...? 

Impossível. A saída para o nosso carnaval, portanto, está em se criar um circuito alternativo de rua, estimulando a participação de blocos e artistas locais. As grandes bandas poderiam vir, mas ficariam sob a responsabilidade exclusiva da iniciativa privada. Da mesma forma, os bailes à fantasia e as festas de grupos sociais organizados. Nesses casos, o município entraria apenas com a estrutura física e a logística. Só assim teríamos um carnaval mais barato, democrático e para todos. Fica aqui a sugestão para os próximos anos.
 
Ivandro Coêlho, professor e jornalista

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