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terça-feira, 2 de abril de 2013

Jornalismo de bueiro (Parte II)

Fonte: Blog Café Pequeno

O denuncismo barato, a não apuração dos fatos e o parcialismo político são traços comuns na maioria dos pretensos jornalistas da nossa província. Como a matéria prima de seu trabalho é em geral a especulação, acabam produzindo falácias, errando prognósticos e tropeçando em evidências. O resultado desse amadorismo são as gafes inevitáveis e o atestado de incompetência passado diariamente para o público.

Já falei aqui sobre a questão do peixe distribuído na semana santa (leia mais em “A oposição está perdida”). Trata-se, obviamente, de uma manipulação grosseira dos fatos, sem o menor critério de investigação. A denúncia baseou-se apenas em afirmações genéricas, sem identificação dos responsáveis. E o que é pior: para causar impacto, usou fotos de internet. Ao final de toda essa barulheira sem nexo, ficou evidente a motivação política por trás do caso - tanto por parte de quem fez a crítica como de quem a propagou.

Outro exemplo desse tipo de jornalismo provinciano foi a especulação em torno da nomeação do novo secretário de meio ambiente. Além da demora na posse, queixava-se de que a prefeita escolhera alguém “de fora”, como se o fato de uma pessoa estar entre os 80 mil moradores da cidade fosse critério suficiente para ocupar um cargo, e não a posse do conhecimento técnico necessário. O curioso é que, logo depois de todo esse chororô, fica-se sabendo que o novo funcionário escolhido pela prefeita é, sim, filho de Chapadinha e servidor de carreira do IBAMA.

Pergunto: onde está o profissionalismo? Onde está o respeito aos fatos e ao leitor? Um simples telefonema teria sido suficiente para esclarecer a dúvida. Além disso, qualquer um sabe que a liberação de um servidor de um órgão federal é um processo lento. Natural, portanto, que a posse tenha demorado três meses. No entanto, apesar do tempo, a decisão da prefeita foi correta e demonstra a responsabilidade e o cuidado em escolher pessoas competentes, capazes de desempenhar bem sua função.

O problema é que, nos governos anteriores, as nomeações não tinham nenhum critério técnico. Eram feitas ao sabor das conveniências e acordos políticos, no mais escancarado fisiologismo. É por isso que um jornalista (que, no fundo, nem jornalista é) podia ser técnico de saúde, mesmo sem saber a diferença entre um analgésico e um band-aid. É por isso que a esposa de um empresário podia ser secretária mesmo sem ter experiência e conhecimento na área ambiental, e assim por diante. Para tanto, bastava ser do mesmo grupo do mandachuva de plantão.

É esse pensamento atrasado, tacanho e mesquinho que alguns setores da política e, principalmente, da mídia local sentem falta. Trata-se de uma gente caracterizada pela preguiça mental e pelo desleixo com a própria formação. Gente que pensa que o simples fato de fazer um lead ou carregar um microfone é suficiente para desempenhar uma função tão importante quanto o jornalismo. Felizmente o leitor já se deu conta de quem é quem nesse meio. Já sabe a diferença entre quem faz notícia e quem produz lixo.
Ivandro Coêlho, professor e jornalista.

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